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sexta-feira, 15 de julho de 2016

AREIA NOS OLHOS

FESTIVAL DE VERÃO DE AREIA


Remexendo no meu baú de memórias, encontrei-me com agradáveis lembranças do I Festival de Verão de Areia - em 1976, logo no início da minha trajetória no mundo da arte. A ideia de promover um espaço de discussões sobre arte e política na Paraíba é antiga; o Festival de Verão de Areia nasceu na cabeça do prof José Alberto Kaplan, quando visitou Areia em companhia de Márcia Steinbach Silva Kaplan (sua esposa) e de Dr. Celso de Paiva Leite (então Pró-reitor de Extensão, na gestão de Dr. Humberto Nóbrega, então Reitor da UFPB), no início da década de 70. O projeto original do Prof. José Alberto Kaplan seria realizado pela Universidade Federal da Paraíba, não fosse vetado pelo regime autoritário de então. Anos depois, tendo esse projeto como modelo, foi criado o I Festival de Verão de Areia, em 1976 (sendo o maestro José Alberto Kaplan o idealizador e diretor artístico/executivo das duas primeiras e melhores edições do Festival). Para realizá-lo, conquistaram o apoio do governo estadual (o então governador Ivan Bichara determinou à Secretaria de Educação e Cultura convocar pessoal e fixar normas para a realização dos encontros), além de importantes intelectuais paraibanos - como José Américo de Almeida, Virginius da Gama e Melo, Tarcísio Burity (então Secretário de Educação e Cultura), Eilzo Nogueira Matos (à época presidente da Fundação Cultural do Estado da Paraíba - FUNCEP), Paulo Melo (coordenador do festival) e de alguns órgãos e empresas federais, algo até certo ponto surpreendente em vista do contexto político.  O festival teve boa repercussão nos meios intelectuais brasileiros. Assim, não foi difícil para os organizadores atrair grandes nomes do teatro, da literatura, do cinema, das artes plásticas e da música popular para as edições do festival que se realizaram nos anos subsequentes. 
Fui levado por meu cunhado José Alberto Kaplan e por minha irmã Márcia Steinbach S. Kaplan - ele, como já disse, idealizador do evento e diretor artístico/executivo das suas duas primeiras e melhores edições; ela, secretária executiva. À época morava com eles (tinha 17 anos); às vésperas de viajarem para a cidade de Areia, na Paraíba, para a realização do festival, fui "apanhado" com um pouco de "cannabis in natura" na minha bolsa - o que os motivou a me levarem "de castigo" junto com eles. Foi um dos acontecimentos mais marcantes da minha vida! O Festival reunia a nata de artistas e intelectuais do Brasil, com gosto de fruta proibida - estávamos em plena ditadura militar, com aquele clima de subversão e espionagem pairando no ar. De repente me vi no centro dos acontecimentos político/culturais da época, onde, mesmo sob censura - entre cursos, oficinas, peças teatrais, concertos e filmes, se discutia de tudo nas palestras noturnas do auditório do belo Colégio Santa Rita - estendidas aos poucos bares da cidade noite adentro. Lá conheci a minha primeira esposa. O festival foi decisivo para que eu decidisse mergulhar de cabeça na minha profissão de artista plástico. Participei das outras seis edições, até 1982, quando foi extinto. Conheci e convivi com artistas como Paulo Pontes, Alfonso Bernal, Flávio Tavares, Raul Córdula, Jackson Ribeiro (com quem fiz um curso de escultura com sucata de ferro), o dançarino Clyde Morgan, Fernando Teixeira, Gianfrancesco Guarnieri, Breno de Mattos, Unhandeijara Lisboa, José Altino, José Lucena, João Câmara Filho - entre tantos outros.
Anos depois, em três ocasiões político/culturais distintas, reeditaram o festival - com nome mudado para Festival de Artes de Areia. Mas ele perdeu-se entre as curvas da Serra da Borborema, com Areia nos olhos, para nunca mais encontrar o caminho dos bons tempos do seu primeiro ciclo.
Com dados de memória (eu estava lá) e algumas extrações de textos publicados na internet (entre aspas, com algumas correções impostas pela minha memória), publico aqui um pouco da história do festival.

No casarão de José Rufino, fotografado pelo jornalista Paulo Queiroz (1976, Areia-PB).


AREIA NOS OLHOS



"[...] No século 19, Areia se destacava na Paraíba pelo vigor da economia e também pela cultura de sua elite endinheirada, que lhe deixou como herança o Teatro Minerva, construído em 1859 – o mais antigo do estado. As informações disponíveis não permitem afirmar com certeza, mas é quase certo que Pedro Américo de Figueiredo e Melo, o mais destacado cidadão areiense de todos os tempos, não tenha comparecido à inauguração do teatro. Em abril de 1859, aos 16 anos, embarcou para Paris, onde iria cursar a École des Beaux-Arts, apadrinhado pelo imperador Pedro II. [...]"


"[...] Teatro Minerva - Primeiro teatro construído na Paraíba. Inaugurado em 1859, o teatro Minerva tem capacidade para 250 pessoas e possui uma acústica de excelente qualidade.Foi erguido com o objetivo de arrecadar fundos para a libertação dos escravos. Seu primeiro nome foi Teatro Recreio Dramático. Já foi cinema e, atualmente, restaurado, serve de espaço para a apresentação de peças e de área de apoio cultural para ensaios dos grupos de danças folclóricas.[...]" Fonte: Pedro Freire Filho (foto: Stuckert).

"[...] Bem mais tarde, em 1888, Pedro Américo pintou Independência ou morte ou O grito do Ipiranga. Qualquer brasileiro que tenha passado por uma escola provavelmente estará mentindo se disser que não conhece essa obra: reproduções do quadro ilustram os manuais didáticos de história com regularidade infalível, há muitos e muitos anos. No entanto, também é provável que a quase totalidade da população não consiga estabelecer uma ligação entre a tela Independência ou morte e o autor, e muito menos de Pedro Américo com sua terra natal.[...]"


Pedro Américo: Independência ou Morte!, também conhecido como O Grito do Ipiranga, 415×760 cm, 1888, Museu Paulista
"[...] Areia ainda é uma desconhecida, embora tenha conquistado certa projeção no campo da cultura entre 1976 e 1982, beneficiada pela conjuntura política da época. Como se recorda, o Brasil estava sob ditadura militar, inaugurada com o golpe de 1964. Naquele ambiente opressivo, marcado pela perseguição feroz aos opositores do regime, numerosos artistas e intelectuais não perdiam as raras oportunidades de romper o cerco da censura e apresentar suas criações, mantendo vivo o debate de ideias e de questões políticas. Para isso serviram os festivais, cuja era de ouro se iniciou no inverno de 1967, em Ouro Preto (MG).[...]" Inspirados nesse evento, alguns professores da Universidade Federal da Paraíba criaram o I Festival de Verão de Areia, em 1976 (sendo o maestro José Alberto Kaplan o idealizador e diretor executivo das duas primeiras e melhores edições do Festival). 
Mas a ideia de promover um espaço de discussões sobre arte e política na Paraíba é antiga; a verdadeira história do Festival de Verão de Areia nasceu na cabeça do prof José Alberto Kaplan, quando visitou Areia em companhia de Márcia Steinbach Silva Kaplan (sua esposa) e de Dr. Celso de Paiva Leite (então Pró-reitor de Extensão, na gestão de Dr. Humberto Nóbrega, então Reitor da UFPB), no início da década de 70. O projeto original do Prof. Kaplan seria realizado pela Universidade Federal da Paraíba, não fosse vetado pelo regime autoritário de então. Anos depois, tendo esse projeto como modelo, foi criado o I Festival de Verão de Areia, em 1976 (com direção artística/executiva do maestro José Alberto Kaplan). Para realizá-lo, conquistaram o apoio do governo estadual (o então governador Ivan Bichara determinou à Secretaria de Educação e Cultura convocar pessoal e fixar normas para a realização dos encontros), além de importantes intelectuais paraibanos - como José Américo de Almeida, Virginius da Gama e Melo, Tarcísio Burity (então Secretário de Educação e Cultura), Eilzo Nogueira Matos (à época presidente da Fundação Cultural do Estado da Paraíba - FUNCEP), Paulo Melo (coordenador do festival) e de alguns órgãos e empresas federais, algo até certo ponto surpreendente em vista do contexto político.[...]"

O Festival reunia a nata de artistas e intelectuais do Brasil, com gosto de fruta proibida - estávamos em plena ditadura militar, com aquele clima de subversão e espionagem pairando no ar. Era o centro dos acontecimentos político/culturais da época, onde, mesmo sob censura - entre cursos, oficinas, peças teatrais, concertos e filmes, se discutia de tudo nos seminários e nas palestras noturnas do auditório do belo Colégio Santa Rita - estendidas aos poucos bares da cidade noite adentro. O festival teve boa repercussão nos meios intelectuais brasileiros. 

O Colégio Santa Rita (foto anônima do Google).

"[...] Assim, não foi difícil para os organizadores atrair grandes nomes do teatro, da literatura, do cinema, das artes plásticas e da música popular para as edições do festival que se realizaram nos anos subsequentes. O festival teve boa repercussão nos meios intelectuais brasileiros. Assim, não foi difícil para os organizadores atrair grandes nomes do teatro, da literatura, do cinema, das artes plásticas e da música popular para as edições do festival que se realizaram nos anos subsequentes. [...]"

Casarão  José Rufino

"[...] A sétima aconteceu em 1982. Logo após o evento, o escritor Ignácio de Loyola Brandão, um dos participantes, contou que mais de uma vez ouviu a seguinte pergunta em Areia: “Um Estado pobre pode gastar dinheiro com um festival de arte?” A que ele respondia: “Melhor gastar com a cultura do que com a segurança nacional”. Assim, de forma concisa, o escritor retratava a repulsa da população esclarecida à ideologia da ditadura. Loyola Brandão também registrou suas impressões sobre o festival, mostrando como esse evento era impactante na época, e como poderia ter evoluído. Areia ele descreveu com simpatia, influenciado pelo clima e geografia da região, e também pela arquitetura da cidade: “Areia, localizada no que se chama Brejo Paraibano, tem uma peculiaridade. É um microclima instalado em meio ao maior calor. E, assim, na cidade faz frio, garoa como nos bons tempos de São Paulo, e, de vez em quando, se dá a sofisticação de apresentar um fog nitidamente londrino. A neblinazinha cobre as montanhas, as ruas desaparecem, as casas se diluem." [...]”
"[...] O Festival de Areia começa a se tornar tradicional no Nordeste. Esta é a sétima vez que foi realizado e reuniu cerca de trinta conferencistas, com debates sobre literatura, teatro, arquitetura, folclore, artes plásticas e cinema. Juntou quase cem debatedores e quinhentos estudantes e interessados. Promoveu exposições de quadros, escultura e artesanato, peças teatrais, shows musicais, apresentações folclóricas, filmes. E muita conversa, noites de autógrafos, bastante cerveja correndo nos poucos bares da cidade e muita carne de sol com macaxeira, cuscuz com leite de coco, sucos de manga, pirão, inhame, farofa e cozidos. 
A mecânica do festival é simples: Durante o dia, debates. Este ano, me pareceu, as palestras foram menos acadêmicas. Pouca gente de papel na mão, a vomitar erudição. E bastante descontração, depoimentos pessoais, transmissão de experiências, alguma teoria e prática em cinema, uma ótima discussão em torno do teatro atual, em artes plásticas e folclore. Prática do Texto Literário, Espaços Cênicos, A Linguagem dos Contadores de Histórias, A Literatura na Televisão, A Lírica Contemporânea, Estéticas Espontâneas num Centro Urbano da Paraíba, O Folclore na Educação, A Literatura na Publicidade, Meios de Produção na Arte Popular, O Simbolismo, As Cavalhadas, O Papel da Mulher na Literatura Brasileira, Teatro e Empresa, 46 Teatro Brasileiro Hoje, A Lúdica Popular, Romance Regional e Romance Urbano, Espaços para a Música Popular, O Cinema Direto e O Significado do Brinquedo na Cultura mostram de que maneira a preocupação principal foi, essencialmente, a discussão cultural em termos nitidamente brasileiros. E, à noite, havia filmes no cinema municipal e peças em dois auditórios. Durante uma semana, Areia mostrou as possibilidades (e a necessidade) de se discutir e redimensionar nossos problemas culturais. Um grande número de informações foi passado para frente e recolhido de grupos os mais diferentes. Havia uma juventude nordestina inquieta, questionadora e curiosa. E é preciso alimentar essa fome de informação. Porque a alegria e a ânsia com que somos recebidos, com que nos sugam, compensa.” Loyola Brandão também sonhou com o festival como possível ponto de apoio “para um movimento importante que tem duas faces”. A primeira: “Desmitificar e derrubar o eixo Rio-São Paulo como ‘detentor’ da cultura nacional”. A segunda: “Fazer um intercâmbio de experiências, vivências, pesquisas, trabalho e ideias entre o Nordeste e o resto do país. O próximo [festival] deveria ter conferencistas não somente do Rio e São Paulo, mas também do Amazonas, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e assim por diante. Uma abertura para todos os lados”. Mas não houve abertura, porque também não houve festivais em Areia nos dezesseis anos seguintes.
A ditadura, que usou “Independência ou morte” até em título de filme, em 1972, no auge de uma etapa de ufanismo, ao que parece, nunca deu maior importância à cidade, e nem ficou alarmada com os eventos culturais realizados ali, a ponto de proibi-los. Não seria preciso: dissensões entre os próprios paraibanos letrados, aliadas às pressões dos reacionários de plantão, impediram a realização do evento em 1983. Além disso, com o fim do regime ditatorial já bem visível no horizonte, os intelectuais e artistas do Sudeste, assim como os das capitais nordestinas, mantiveram suas atividades e se engajaram no movimento pela redemocratização do país em seus próprios territórios. Areia terminou esquecida. Mesmo assim, a série memorável dos primeiros festivais nunca deixou o imaginário das pessoas que os viveram com intensidade. E algumas delas sempre sonharam com a volta do festival, não apenas influenciadas por reminiscências agradáveis. Areia, patrimônio nacional, deve reavivar e conservar seu patrimônio imaterial. E os festivais de arte têm um papel a cumprir nesse sentido, enquanto difusores da cultura regional. Depois, o primeiro ciclo desses eventos é parte importante da história areiense, tendo influenciado toda uma geração de intelectuais e artistas paraibanos.[...]"

 



NOVAS EDIÇÕES DO FESTIVAL

1998 e 1999
Realizados pela prefeitura de Areia em 1998 e 1999 – um misto de festival e carnaval fora de época – sem relevância cultural, não tiveram continuidade nem a importante repercussão nacional dos anteriores.


2005 e 2008

"[...] No grupo dos interessados em retomar a tradição está Ana Clara Maia, que nasceu em Areia e lá viveu até 1983. “O festival era o grande momento do ano. Artistas e intelectuais vinham para ficar alguns dias e isso aqui virava um caldeirão de ideias de vanguarda”.
Ana Clara ficou distante de Areia até 2003, trabalhando em agências de publicidade, na produção de espetáculos e se envolvendo com movimentos sociais. Quando decidiu voltar para casa, sua intenção de relançar o festival estava mais forte que nunca (os que foram realizados pela prefeitura em 1998 e 1999 – um misto de festival e carnaval fora de época – não tiveram continuidade) e ela terminou alcançando seu objetivo. Em 2005, com respaldo da Eletrobrás, via lei de incentivo à cultura (Lei Rouanet) e de algumas parcerias locais, coordenou o X Festival de Areia. Em janeiro de 2006, Ana Clara voltou à carga. Com a escritora Janaína Azevedo, apresentou novo projeto de festival, aprovado pelo MinC. Desde então, elas não conseguiram apoio da iniciativa privada. “Para um lugar do interior da Paraíba é difícil encontrar interessados em patrocinar. As grandes empresas preferem aplicar os recursos no Sudeste e no Sul, ou mesmo em algumas capitais do Nordeste, onde a visibilidade e a repercussão de eventos culturais são muito maiores”, comenta Ana Clara. Mas, finalmente, surgiu um bom motivo para comemorar: em abril de 2008, o projeto do XI Festival de Artes de Areia, apresentado pelo Grupo de Teatro Gameleira, foi aprovado pelo Programa Monumenta. A partir de julho, seguiram-se meses de intensa agitação. Nessa fase preparatória, além de planejar as atividades, era preciso garantir a contrapartida privada ao financiamento do Monumenta, equivalente a cerca de 31% do valor total do projeto. Para as coordenadoras Ana Clara e Janaína, a solução foi alinhavar parcerias com o Sebrae, o Sesc e a Subsecretaria da Cultura da Paraíba, e apelar para a solidariedade de artistas e amigos. Vários deles se prontificaram a ajudar na medida de suas possibilidades, dando espetáculos e oficinas de graça durante o evento, realizado entre os dias 5 e 9 de novembro. Alguns viajaram até Areia patrocinados por entidades de seus locais de origem. Outros custearam as despesas com recursos próprios. Dessa forma, foram garantidas 15 apresentações de música, dança e teatro. Na manhã do dia 5, data de abertura do festival, houve uma surpresa desagradável. A coordenação do festival recebeu ofício da Secretaria de Administração de Areia proibindo a instalação de barracas em espaços públicos, por ordem do prefeito. Foi um transtorno. A coordenação 52 planejara instalar uma feira de artesanato, prevista na programação, no chamado Beco do Jorge, que fica ao lado do Solar José Rufino. As barracas, que já estavam alugadas, deveriam ser usadas por artesãos da região. Entre eles, as ceramistas do lugar conhecido como Chã da Pia, que confeccionam a “loiça de barro”, trabalho de extraordinário valor artístico, histórico e antropológico – um verdadeiro tesouro de Areia, que já rendeu pelo menos uma tese de doutorado (na Universidade Federal de São Carlos, SP). Essas mulheres são guardiãs de tradição indígena multimilenar: sentadas no chão, usando apenas as mãos e um caco de cerâmica, produzem dezenas de objetos de argila de diversos tamanhos, para diferentes usos, com acabamento primoroso. E tudo com agilidade surpreendente. Além de expor seu artesanato na feira, as mulheres da Chã da Pia seriam as responsáveis pela oficina Vitrine Viva, em que mostrariam sua técnica aos passantes. Proibida a instalação das barracas, a oficina foi transferida para o interior do Solar José Rufino, ficando um tanto afastada do público. A falta de espaço também limitou a exposição de artesanato. Segundo Ana Clara, as barracas abrigariam um grupo grande de expositores, que assim teria uma oportunidade de comerciar sua produção, pois o Centro de Artesanato de Areia, que funcionava em prédio fronteiro ao Solar José Rufino, está fechado há quatro anos. Vendedores de alimentos, alguns vindos de cidades vizinhas, também se instalariam no Beco do Jorge, formando uma “praça de alimentação”. O local é mal-afamado, perigoso até, reconhece Ana Clara: “À noite, tem servido de ‘banheiro público’ e de depósito de lixo em festividades que se realizam em Areia. Mas esperávamos que a ocupação planejada dificultasse a ocorrência de incidentes desagradáveis. Bastaria ter policiamento adequado para que se evitassem os inconvenientes”. Fora essa contrariedade, o XI Festival transcorreu de acordo com as expectativas. Na sexta-feira, 7 de novembro, houve degustação de pratos criados durante o Festival Gastronômico – Civilização do Açúcar, realização do XI Festival de Artes de Areia, em parceria com o projeto de turismo do Sebrae. O festival gastronômico, destinado aos proprietários de bares, restaurantes, padarias, pousadas e outros estabelecimentos que servem alimentos, ocorreu na última semana de outubro, quando Josimar Aurélio, chef de cozinha na Bahia, esteve na cidade para criar pratos exclusivos, contendo produtos da cana – rapadura, cachaça, mel de engenho e açúcar mascavo – para cada um dos 19 estabelecimentos inscritos: suflê de rapadura, carne de porco com mel de engenho, sorvete de rapadura e assim por diante. Em Areia há 28 engenhos fabricando cachaça, rapadura, ou ambos. Como têm sido consumidos só in natura, a ideia era descobrir novos usos para esses produtos e divulgá-los. A mescla de gastronomia, atividades culturais e turismo combina bem com Areia, diz o crítico literário Hildeberto Barbosa Filho, professor da Universidade Federal da Paraíba. “Só falta relacionar o clima com o festival, que deveria ser realizado nos meses de junho e julho, pois se trata de uma cidade serrana, fria no inverno”. Para ele, não há o que mudar na orientação do festival: “Ao contrário do passado, agora tivemos um evento de porte menor, com preocupação didático-pedagógica que considero fundamental, devido à carência das comunidades, sobretudo a das periféricas. Os primeiros festivais eram grandes e foram feitos para que os artistas e intelectuais se encontrassem. Mas a população ficava um pouco à margem, como figurante, o que era motivo de crítica na época”. Hildeberto espera que o festival seja realizado todos os anos de agora em diante. “Esse evento é patrimônio simbólico da cidade que, por sua vez, é patrimônio histórico nacional. É preciso que haja uma convergência de esforços de ONGs, da prefeitura, dos cidadãos em geral para que ele continue. Será um espaço para que o artista da terra possa emergir, mostrar seu trabalho. Grandes estrelas também serão bem-vindas, desde que haja recursos para trazê-las”. Durante o XI Festival de Arte, estiveram em Areia, entre outros: o cantor e compositor Beto Mi e o MCTA, grupo teatral dirigido por Carlinhos Lira, de São Paulo; Carlos Arão e Fábio Dornas, do grupo de dança Movasse, de Minas Gerais, e Alessandra Colasanti, do Rio de Janeiro, com o espetáculo Anticlássico. A eles se juntaram artistas paraibanos como Dudé das Aroeiras, cantor e compositor; o grupo de teatro Alfenim e o grupo de capoeira Vila Real, de João Pessoa; o grupo de teatro Recreio Dramático e a Banda Abdon Milanez, de Areia. Houve diversas oficinas, realizadas no Solar José Rufino, no mercado público, no coreto da praça e no Teatro Minerva. Os temas: Literatura infantil para professores da primeira fase do ensino fundamental, com Hildeberto Barbosa Filho, da UFPB; Musicalização para crianças através da flauta doce, com Luceni Caetano da Silva, da UFPB; Direção de teatro, com Carlinhos Lira; Maquiagem para teatro, com Vladimir Santiago, da Paraíba; Dança contemporânea, com Carlos Arão; Danças populares, com Ronaldo Zebra, da Paraíba; Percussão e capoeira, com Escurinho Badauê, da Paraíba; Fotografia, com Adriano Franco, da Paraíba; Planeta Caipira, com Beto Mi. Os participantes receberam certificados do Sebrae. 59 O Cinema na Rua e na Escola, realizado em parceria com o Sesc e a Subsecretaria de Cultura da Paraíba, exibiu filmes nacionais, alguns produzidos no estado, e animações. A programação também alcançou os distritos de Cepilho, Mata Limpa, Muquém e Santa Maria.[...]"

Retomada: 2011

"[...] Em março de 2011, o governador da Paraíba Ricardo Coutinho anunciou a retomada do Festival, designando à recém-criada Secretaria de Estado da Cultura o papel de produzir o XII Festival de Artes de Areia.
O 12º Festival de Artes de Areia homenageou sete artistas paraibanos em reconhecimento ao valor artístico e contribuição à cultura paraibana e nacional. Homenageados: Ariano Suassuna (literatura), Major Palito (circo), Hermano José (artes plásticas), Vania Perazzo (cinema), José Enoch (dança), Fernando Teixeira (teatro) e Genival Lacerda (música).[...]"

De lá para os dias atuais, o Festival de Areia foi incluído na programação do Festival Rota Cultural Caminhos do Frio, que engloba 9 cidades do brejo paraibano, distanciando-se cada vez mais da qualidade original e do charme das primeiras edições. 
O Festival perdeu-se entre as curvas da Serra da Borborema, com Areia nos olhos, para nunca mais encontrar o caminho dos bons tempos do seu primeiro ciclo.










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